quinta-feira, 10 de março de 2011

Human

  A dor não me inspira mais, mas não abre mão de ser a minha droga. Isso tem acontecido com freqüência, e a desculpa de ser apenas humana não funciona mais. É verdade que eu me acostumei com essa presença, e espero não ser masoquismo de mais sentir falta às vezes desta minha falsa amizade.
  Mas também é verdade que a felicidade não faz mais questão de comparecer aos meus chamados, ela se mantém estranha e distante. Não a culpo, perto dela perco a formalidade, minha tamanha estupidez talvez a tenha espantado.
  Dois lados, com suas vantagens e desvantagens, e eu queria ter o equilíbrio sobre eles. Queria saber tomar a dose certa de cada, sem overdoses, sem efeitos colaterais.
  Doces lágrimas e açucarados sorrisos, será que só me visitam com a companhia de minhas amigas? E seus filhos, onde está a minha companhia física? Não posso viver isoladamente com elas em minha cabeça, preciso do toque. Seria pedir de mais ou meus atos não são suficientes para conseguir o que desejo?

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Hysteria

  Tento levantar da cama, não consigo. É como se alguém me empurrasse para baixo, tudo está preto. Fazem horas que estou assim e não me mexi um milímetro sequer. Tem algo martelando em minha cabeça, uma vida que nunca tive, aqui estão as invenções.
  Onde está o autocontrole que sempre tive, as pessoas que tanto preservei e as coisas que tanto lutei? Perguntas falsas criadas pela vida para me confundir, mas ela não consegue me enganar, eu lembro da minha realidade.
  Talvez tenha perdido a minha máscara, as pessoas descobriram a verdade – tão temida e odiada. Enquanto eu mentia para as pessoas, elas mentiam para si mesmas, então a minha verdade para elas era uma absurda mentira.
   Ou então isso é a morte de corpo, quem irá desligar os meus aparelhos? 

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Silêncio pós caos

  Pessoas atravessavam a rua a todo momento e nenhuma realmente existia mais. A terra está cheia de almas que não acreditam na morte. E quem dirá na vida, já que nesta geração não existiu a vontade própria.
  Os antepassados inventaram o nosso futuro, o término da vida. Todos ponderavam-se de que esse fim estaria distante, e os poucos que pensavam o contrário eram considerados loucos.
  Os loucos sempre estão certos, e não são eles os verdadeiros loucos, somos nós. Somos os condenados e os falsos realistas. Sempre víamos problemas espalhados pelo mundo, pensando que eram os nossos problemas, mas não havia uma pessoa que admitisse que ela era o problema.
  As crenças não salvaram seus fiéis, elas já haviam se condenado anos antes, e por mais que a esperança tivesse ficado até o fim, ela lutava ao lado do "adversário".
  Nosso erro foi ignorar o caos, e o fim veio antes de todos acordarem. A noite caiu sobre a terra, tornando-se sua eterna companheira. Não havia seres para atrapalhar o silêncio e fazer um novo começo. Ali restavam almas, e almas não concretizam nada.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Folha de caderno

  Olhos evitando pessoas, não quero ver nenhuma multidão. Todos falam, ninguém escuta. Por mim eles já estão condenados.
  Cansei de observar é a minha vez de viver, espero não ter perdido tempo de mais. Meus amigos já morreram (isso foi superado ao longo dos anos) e minha família nunca existiu.
  Meus diplomas de nada valem no meu mundo, a escola apenas me ajudou a matar o tempo de imaturidade. Não que eu tenha amadurecido, mas agora tenho um pouco de noção. E quem sabe um dia alguma evolução?
  A mente dividida me confunde, as respostas sem perguntas estão embaralhadas. Não há como colocar ordem, mas a bagunça é decifrável.
  Vidas divididas em curtos parágrafos, e meu lápis não quer parar. Minha vitória é ter acordado a mente.
  Agora os estranhos saíram, e posso descansar com a minha música em paz.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Ilha

  A ilha foi a origem, e talvez o meu princípio. Lá nenhum barco jamais havia atracado, e ninguém havia visitado. Algumas pessoas tentaram, mas nenhuma aguentou a correnteza que me cercava.
  Furacões tinham como alvo minhas moradias, nada nelas escapava daquela fome de destruição, e eu vivia através de fugas e disfarces. Eu era escrava de meu próprio meio, e a liberdade não tinha preço – não era algo que pudesse ser pago naquele lugar.
Eu era única ali, mas também não era ninguém. Uma pessoa sozinha é completamente inútil para manter a própria sanidade.
  Lá o tempo era inevitável, mas incontável e não me lembro ao certo quando foi que tudo aconteceu, às vezes até penso que pode ter sido apenas uma criação de minha solidão. Mas me lembro da explosão, e onde era a minha ilha agora tinha prédios. Pessoas andavam de um lado a outro em rotas infindáveis sempre com algum destino, algum propósito, alguma razão. Eu tinha me tornado intrusa naquele novo mundo que tinha destruído o meu lar.
  Contudo, o tempo passou. Eu me adaptei, me transformei, mas nunca esqueci de meu passado. Ele sempre estava ali me questionando de como eu havia chegado a aquele lugar. Ou como ele havia chegado até mim.
  Continuava sendo a estranha para os habitantes, mas eu era aceitável. Eu vivi, estudei, trabalhei. Conheci pessoas, por algumas me apaixonei, e por outras fiz amizades. Acabei me tornando humana. Aprendi a me misturar e atividades se tornaram costumeiras.
  Tive momentos inesquecíveis e dolorosos, em que não me importo em tentar esquecê-los. Sei que não há como evitar o passado, e também sei conviver com ele.
  Quando ao amor entregue, tudo parece o paraíso, não a há limites para os pés que não querem tocar o chão. E quando chega o final, é extremamente difícil que ele não seja cortante. Sempre há um preço a ser pago para poder sorrir com alguém. Os ferimentos dos efeitos colaterais dessa queda são um dos piores que a alma pode aguentar.  Uma vez apaixonada, não havia medo em mim, eu era confiante em relação a tudo, e era capaz de fazer qualquer coisa para ficar perto de quem me importava. Pensava que aquela felicidade nunca acabaria, e como eu era ingênua. Nunca imaginaria que um dia a morte arrancaria de mim toda a minha razão. Foi assim que ela roubou o amor de mim. E depois eu não tinha mais vida, pois você só vive se tiver um propósito.
  Até hoje meu corpo vagueia pela terra, aguardando a morte, aguardando o fim. Assisto a humanidade se perder dentre de suas próprias criações, e vejo pouco a pouco que ele está próximo. O fim que na verdade é só o retorno ao começo, o meu fim é a minha origem. Sei que logo voltarei para casa, voltarei para a ilha.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Videotape

Continuando a vida, acumulando erros, dívidas e sentimentos. Ignorei por tempo de mais, esqueci o que realmente importava, me rendi ao sedentarismo mental, me tornei uma incapacitada. Medos que mastigavam vidas, as minhas vidas. Perdi todo meu ser numa noite de dependência e refleti no nada que eu havia me tornado. O vazio de súbito virou um confuso clarão que no futuro eu indagaria ser o óbvio.
Ideias que me pareciam invisíveis se tornaram minhas fixas paredes concretas. Só a um corredor para a verdade, mas há milhares de caminhos que nos levam ao corredor.
Verdades já foram mais convincentes e a mente tornou-se o principal refúgio, mesmo que sendo incerto.  A escuridão agora é o meu sol, minha eterna companheira. 
O tempo desperdiçado, as perdas inevitáveis, a queda infindável. 

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

The new

Você cai, mas em vez de levantar, continua caindo. Não adianta mais tentar de novo, todos sabem que você sempre fracassa. A desconfiança roubou o lugar da confiança e você está alerta.
Sua platéia já se foi e não há nenhuma ajuda, só você poderia se salvar. Mas você não quer isso, não é? Ela não tem importância nenhuma, o show é para si mesma.
Você queria que ele estivesse com você, no fundo você sente que ele nem sabe que você existe.
Cansou desse mundo de controvérsias e nem suas pílulas resolvem mais. De que adianta seus membros mortos, se você ainda consegue pensar?
Você queria liberdade, você a teve.
Você queria ser diferente, você foi.
Você queria enganar todos, você conseguiu.
Você queria  um segundo com ele, você teve. E depois? Você quis ele para a vida inteira, e esse foi o erro. Seus pedidos haviam acabado, seu tempo de senhora do mundo já se esgotaram. Seus pensamentos corroem sua mente e você sabe que essa morte será lenta.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Untitled

Minhas mãos tateiam procurando algo nessa escuridão. É impossível enxergar o que vem pela frente, e só consigo me machucar por cair frequentemente.
Os batimentos fracos de um coração despedaçado que não aceita sua partida. Lágrimas percorrem todo o meu rosto e pescoço até se perderem dentro de
minha roupa.
Um vazio que reflete em minha alma e faz minha mente gritar. Múltiplos sentimentos torturantes que só se amenizaram com um longo tempo.
Todas as caixas de remédios encontradas já foram tomadas, e a pele já foi ferida, mas dores físicas não são sentidas.
Nada mais importa e não há consolo que amenize a perda.
Sei que a vida continua, e só com o tempo e as distrações tudo se anestesiará. Mas agora não há nada que eu possa fazer a não ser suportar toda a dor.

Inexistência

Parar de pensar é como parar de viver. Seu coração continua batendo, mas você só um corpo oco pela falta de pensar.
Mas tente parar de pensar, você não vai consegui. Pelo menos não por muito tempo.
Você é movido a idéias, e as idéias são movidas pelo pensamento.
E a doença da falta de idéias? É sua mente morrendo aos poucos, é você deixando de existir no seu mundo interior, é você automático.
Seus sentimentos vão se afastando, você vai se tornando um vazio. Um ninguém.
Você observa a vida, observa as pessoas, observa tudo, mas não vê sentido algum.
Você se pergunta sua utilidade e não há respostas. Sua vida é um quebra cabeça sem solução, as peças não se encaixam. Não mais.
Você teve toda uma vida para trás, amantes e amigos. Mas e agora? E depois?
Não há nada. Não há um trem a se esperar, não há uma jornada, não há um destino.

Você não existe mais.