sábado, 19 de fevereiro de 2011

Hysteria

  Tento levantar da cama, não consigo. É como se alguém me empurrasse para baixo, tudo está preto. Fazem horas que estou assim e não me mexi um milímetro sequer. Tem algo martelando em minha cabeça, uma vida que nunca tive, aqui estão as invenções.
  Onde está o autocontrole que sempre tive, as pessoas que tanto preservei e as coisas que tanto lutei? Perguntas falsas criadas pela vida para me confundir, mas ela não consegue me enganar, eu lembro da minha realidade.
  Talvez tenha perdido a minha máscara, as pessoas descobriram a verdade – tão temida e odiada. Enquanto eu mentia para as pessoas, elas mentiam para si mesmas, então a minha verdade para elas era uma absurda mentira.
   Ou então isso é a morte de corpo, quem irá desligar os meus aparelhos? 

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Silêncio pós caos

  Pessoas atravessavam a rua a todo momento e nenhuma realmente existia mais. A terra está cheia de almas que não acreditam na morte. E quem dirá na vida, já que nesta geração não existiu a vontade própria.
  Os antepassados inventaram o nosso futuro, o término da vida. Todos ponderavam-se de que esse fim estaria distante, e os poucos que pensavam o contrário eram considerados loucos.
  Os loucos sempre estão certos, e não são eles os verdadeiros loucos, somos nós. Somos os condenados e os falsos realistas. Sempre víamos problemas espalhados pelo mundo, pensando que eram os nossos problemas, mas não havia uma pessoa que admitisse que ela era o problema.
  As crenças não salvaram seus fiéis, elas já haviam se condenado anos antes, e por mais que a esperança tivesse ficado até o fim, ela lutava ao lado do "adversário".
  Nosso erro foi ignorar o caos, e o fim veio antes de todos acordarem. A noite caiu sobre a terra, tornando-se sua eterna companheira. Não havia seres para atrapalhar o silêncio e fazer um novo começo. Ali restavam almas, e almas não concretizam nada.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Folha de caderno

  Olhos evitando pessoas, não quero ver nenhuma multidão. Todos falam, ninguém escuta. Por mim eles já estão condenados.
  Cansei de observar é a minha vez de viver, espero não ter perdido tempo de mais. Meus amigos já morreram (isso foi superado ao longo dos anos) e minha família nunca existiu.
  Meus diplomas de nada valem no meu mundo, a escola apenas me ajudou a matar o tempo de imaturidade. Não que eu tenha amadurecido, mas agora tenho um pouco de noção. E quem sabe um dia alguma evolução?
  A mente dividida me confunde, as respostas sem perguntas estão embaralhadas. Não há como colocar ordem, mas a bagunça é decifrável.
  Vidas divididas em curtos parágrafos, e meu lápis não quer parar. Minha vitória é ter acordado a mente.
  Agora os estranhos saíram, e posso descansar com a minha música em paz.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Ilha

  A ilha foi a origem, e talvez o meu princípio. Lá nenhum barco jamais havia atracado, e ninguém havia visitado. Algumas pessoas tentaram, mas nenhuma aguentou a correnteza que me cercava.
  Furacões tinham como alvo minhas moradias, nada nelas escapava daquela fome de destruição, e eu vivia através de fugas e disfarces. Eu era escrava de meu próprio meio, e a liberdade não tinha preço – não era algo que pudesse ser pago naquele lugar.
Eu era única ali, mas também não era ninguém. Uma pessoa sozinha é completamente inútil para manter a própria sanidade.
  Lá o tempo era inevitável, mas incontável e não me lembro ao certo quando foi que tudo aconteceu, às vezes até penso que pode ter sido apenas uma criação de minha solidão. Mas me lembro da explosão, e onde era a minha ilha agora tinha prédios. Pessoas andavam de um lado a outro em rotas infindáveis sempre com algum destino, algum propósito, alguma razão. Eu tinha me tornado intrusa naquele novo mundo que tinha destruído o meu lar.
  Contudo, o tempo passou. Eu me adaptei, me transformei, mas nunca esqueci de meu passado. Ele sempre estava ali me questionando de como eu havia chegado a aquele lugar. Ou como ele havia chegado até mim.
  Continuava sendo a estranha para os habitantes, mas eu era aceitável. Eu vivi, estudei, trabalhei. Conheci pessoas, por algumas me apaixonei, e por outras fiz amizades. Acabei me tornando humana. Aprendi a me misturar e atividades se tornaram costumeiras.
  Tive momentos inesquecíveis e dolorosos, em que não me importo em tentar esquecê-los. Sei que não há como evitar o passado, e também sei conviver com ele.
  Quando ao amor entregue, tudo parece o paraíso, não a há limites para os pés que não querem tocar o chão. E quando chega o final, é extremamente difícil que ele não seja cortante. Sempre há um preço a ser pago para poder sorrir com alguém. Os ferimentos dos efeitos colaterais dessa queda são um dos piores que a alma pode aguentar.  Uma vez apaixonada, não havia medo em mim, eu era confiante em relação a tudo, e era capaz de fazer qualquer coisa para ficar perto de quem me importava. Pensava que aquela felicidade nunca acabaria, e como eu era ingênua. Nunca imaginaria que um dia a morte arrancaria de mim toda a minha razão. Foi assim que ela roubou o amor de mim. E depois eu não tinha mais vida, pois você só vive se tiver um propósito.
  Até hoje meu corpo vagueia pela terra, aguardando a morte, aguardando o fim. Assisto a humanidade se perder dentre de suas próprias criações, e vejo pouco a pouco que ele está próximo. O fim que na verdade é só o retorno ao começo, o meu fim é a minha origem. Sei que logo voltarei para casa, voltarei para a ilha.