sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Ilha

  A ilha foi a origem, e talvez o meu princípio. Lá nenhum barco jamais havia atracado, e ninguém havia visitado. Algumas pessoas tentaram, mas nenhuma aguentou a correnteza que me cercava.
  Furacões tinham como alvo minhas moradias, nada nelas escapava daquela fome de destruição, e eu vivia através de fugas e disfarces. Eu era escrava de meu próprio meio, e a liberdade não tinha preço – não era algo que pudesse ser pago naquele lugar.
Eu era única ali, mas também não era ninguém. Uma pessoa sozinha é completamente inútil para manter a própria sanidade.
  Lá o tempo era inevitável, mas incontável e não me lembro ao certo quando foi que tudo aconteceu, às vezes até penso que pode ter sido apenas uma criação de minha solidão. Mas me lembro da explosão, e onde era a minha ilha agora tinha prédios. Pessoas andavam de um lado a outro em rotas infindáveis sempre com algum destino, algum propósito, alguma razão. Eu tinha me tornado intrusa naquele novo mundo que tinha destruído o meu lar.
  Contudo, o tempo passou. Eu me adaptei, me transformei, mas nunca esqueci de meu passado. Ele sempre estava ali me questionando de como eu havia chegado a aquele lugar. Ou como ele havia chegado até mim.
  Continuava sendo a estranha para os habitantes, mas eu era aceitável. Eu vivi, estudei, trabalhei. Conheci pessoas, por algumas me apaixonei, e por outras fiz amizades. Acabei me tornando humana. Aprendi a me misturar e atividades se tornaram costumeiras.
  Tive momentos inesquecíveis e dolorosos, em que não me importo em tentar esquecê-los. Sei que não há como evitar o passado, e também sei conviver com ele.
  Quando ao amor entregue, tudo parece o paraíso, não a há limites para os pés que não querem tocar o chão. E quando chega o final, é extremamente difícil que ele não seja cortante. Sempre há um preço a ser pago para poder sorrir com alguém. Os ferimentos dos efeitos colaterais dessa queda são um dos piores que a alma pode aguentar.  Uma vez apaixonada, não havia medo em mim, eu era confiante em relação a tudo, e era capaz de fazer qualquer coisa para ficar perto de quem me importava. Pensava que aquela felicidade nunca acabaria, e como eu era ingênua. Nunca imaginaria que um dia a morte arrancaria de mim toda a minha razão. Foi assim que ela roubou o amor de mim. E depois eu não tinha mais vida, pois você só vive se tiver um propósito.
  Até hoje meu corpo vagueia pela terra, aguardando a morte, aguardando o fim. Assisto a humanidade se perder dentre de suas próprias criações, e vejo pouco a pouco que ele está próximo. O fim que na verdade é só o retorno ao começo, o meu fim é a minha origem. Sei que logo voltarei para casa, voltarei para a ilha.

Um comentário:

  1. Merece mais que aplausos! Nunca li nada parecido, gostei muito. Estou seguindo e vou tentar ler os posts antigos. Imenso parabéns, e boa sorte. :)

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